Entre as coisas que mais me chateiam actualmente: acordar.
Friday, August 05, 2022
Wednesday, August 03, 2022
Tuesday, August 02, 2022
Monday, July 25, 2022
Sunday, July 24, 2022
Tim Hardin e Karen Dalton, dois dos seres mais belos, feridos e, em grande parte, esquecidos, da música popular americana.
Toda a gente (Cash, Rod Stewart, Carpenters, agora passa um nova cover na rádio com a participação da Courtney Barnett, o Neil Young não se sei gravou mas tocou versões live) regravou esta canção, e a canção é sempre boa porque é maravilhosa mas também parece sempre (até no Cash) um bocadinho fútil, um bocadinho desnecessária, uma performance. Estas são as duas versões em que a canção faz pleno e dorido sentido, porque o sentido vem da voz, da melancolia que não se encena - está lá ou não está lá, como o fumo e o álcool na voz da Karen Dalton.
Saturday, July 23, 2022
And keeping them is harder than you might suppose
Lately, I tend to make strangers wherever I go
Some of them were once people I was happy to know
Double darkness falling fast
I keep stressing, pressing on
Way deep down at some substratum
Feels like something really wrong has happened
And I confess, I'm barely hanging on"
Friday, June 03, 2022
De todas as bandinhas quasi-efémeras da viragem dos anos 80 para os 90 os House of Love são uma predilecção especial. Esta canção nem é a minha favorita deles, mas lembro-me de que a conexão foi instantânea: era 1990, tanto trauteei isto a caminho da faculdade, com a convicção de quem descobriu um fragmento autobiográfico da sua adolescência.
"The Beatles and the Stones made it good to be alone
To be alone"
Thursday, May 26, 2022
Sunday, May 22, 2022
Quinze anos de Boxer
"We miss being ruffians, going wild and bright
In the corners of front yards, getting in and out of carsWe miss being deviants"
Friday, March 18, 2022
And I'm afeared if I don't have a piglet, lamb or little calve I'll chop my human-ness in half and be as worm or virus
Não ter assinalado o 20º aniversário do "Ease Down the Road" foi uma falta imperdoável da minha parte. Que se assinale então o 21º aniversário. Posto à venda no dia 19 de Março de 2001.
So I took it upon me to go away
To gather my thoughts and go away
Where I could (be used by) somebody
Were Billy and Frankie and Henry and Joe
And they beat and broke me hard and slow
To prove I was nobody
And no-one I was and so I remained
Knocked-out in a hut, no mother, no name
And filled up my heart with one and the same
That grand dark feeling of emptiness
Or was it a girl come to baste my goose
Or was it my great god who laid on his finger
And started my clock anew
Ah no, it was rain ; ah no, it was gunning
It was point-break and buckle
And singing and cunning
That skinned me, re-skinned me
And started me running
And I never looked back from then on
About the make and model shit
The muddy bowl I live in it
And all the mucks that tire us
And I'm afeared if I don't have
A piglet, lamb or little calve
I'll chop my human-ness in half
And be as worm or virus
Upon folks' ears my babes are hung
Rhythmically they live among
And grow but don't get old
Not in a box, not in a void
Not if their voice is never hoid
Nor if no-one repeats a woid
But if their tune is told
Then we can age and fall away
To meet again some golden day
And fill it in our happy way
In starlight and in gold
i hate myself when im alone its just with you i feel ok
Não ter assinalado o 20º aniversário do "Ease Down the Road" foi uma falta imperdoável da minha parte. Que se assinale então o 21º aniversário. Posto à venda no dia 19 de Março de 2001.
Sunday, December 26, 2021
Saturday, September 11, 2021
Wednesday, August 25, 2021
Em pouco menos de dez anos terei vivido tanto tempo neste século quanto vivi no século anterior, mas suspeito que continuarei a manter com o século XXI a mesma relação que um passageiro clandestino mantém com o transatlântico em que embarcou à sorrelfa: uma mistura de ansiedade e vergonha, a vergonha de quem sabe que não devia estar ali, a ansiedade de quem sabe que já não há barco nenhum onde devesse estar.
Que é que isto tem a ver com a morte do Charlie Watts? Nada. E tudo. Mas tomai e comei, este é o meu tempo.
Friday, July 16, 2021
Friends always become enemies if you wait long enough
John Giorno, portentoso, em "Poetry in Motion" (Ron Mann, 1981).
Wednesday, June 23, 2021
Aquela vez em que um puro impulso me levou a traduzir uma letra do Berman, demorei dez minutos, e quase dez anos depois ainda me parece que ficou bem.
Estou bêbedo num sofá em Nashville
num duplex perto do reservatório
e cada simples pensamento parece um murro na cara
sou como um coelho a enregelar numa estrela
No lado errado do domingo de manhã
despedaçado pela luz terrível
a trabalhar para um circo falido
no lado errado de sábado à noite
E quero ser como água se puder
porque a água está-se a marimbar
a água está-se a marimbar
Perseguido por um cutelo flutuante
não basta pores-te aos tiros para saíres daqui
podia dizer-te coisas sobre este papel de parede
que nunca nunca nunca quererias saber
Mas há uma alternativa no vale
para as coisas e o que elas são nelas próprias
e o triunfo do obstáculo
e suásticas feitas com pernas de cavalos
Quero apanhar boleia nas costas de um colibri
até ao número mais alto
até ao número mais alto
E quero ser como água se puder
porque a água está-se a marimbar
a água está-se a marimbar
Sunday, June 13, 2021
É perfeitamente natural e compreensível que o bom cidadão, aquele que utiliza e frequenta as "redes sociais" para diariamente manifestar a sua violenta oposição às coisas más e o seu fervoroso apoio às coisas boas, encontre dificuldades na hora de escolher uma equipa para apoiar no Euro 2020. A pensar nele, preparei um pequeno guia, que espero que facilite essa árdua escolha:
Bélgica – Burocratas, affair Dutroux, uma vergonha o que fizeram no Congo, e o Vlamandsblok é fascista. Por outro lado, equipa multicultural, e o Lukaku. Hipótese a considerar, à falta de melhor.
Itália – Nah. Inventaram o nacionalismo moderno. Mussolini, Salvini. Relação ambígua com a “crise dos migrantes”. Mafia, Berlusconi, país precursor da diluição de fronteiras entre o underground criminoso e a superfície de respeitabilidade política.
Rússia – Nem pensar. Do Mal Absoluto quer-se distância.
Polónia – Fascistas.
Ucrânia – Fascistas.
Espanha – Tourada, monarquia, Vox. Fascistas, no fundo.
França – Caso complicado. Imperdoável que de 7 em 7 anos nos deixe em ai Jesus que lá vêm os Le Pen. Chauvinistas, antipáticos, o Macron é um sonso. Como a Bélgica, equipa multicultural, mas, como a Bélgica, um multiculturalismo conseguido à custa da pilhagem colonial de recursos humanos. Há-de haver melhor.
Turquia – Erdogan. Nem pensar.
Inglaterra – O Brexit, o Boris. Churchill e outros racistas. Imperialistas. A família real mais cretina da Europa. Passar à frente.
República Checa – Depois do Havel ninguém sabe muito deles, na verdade. Mas parece que já fizeram umas fitas na CE e tiveram um presidente que mandou bocas islamófobas. À cautela, não.
Finlândia – o povo mais simpático da Europa, mas aquilo dos Verdadeiros Finlandeses é esquisito. Bebem muito e são muito brancos. Não.
Suécia – Liberalíssimas políticas de imigração, que lhe valem ser o pet hate da extrema direita mundial. Não se fazem falar muito, excepto quando há chatices com o Nobel, e no fundo ninguém sabe muito bem o que lá se passa. Hipótese a considerar.
Croácia – Fascistas.
Áustria – Ui, país onde nasceu o Hitler. Tem sempre fascistas no governo ou à volta dele. Fascistas.
Holanda – Arrogantes que roubam os impostos dos outros países e depois se queixam de que têm que pagar as contas deles. Já ninguém se lembra de quando se louvava Amesterdão Global Village, parece que foi há mil anos. Não.
Alemanha - Há dez anos seria hipótese imediatamente excluida, mas hoje já não representam o neo-imperalismo económico, antes um bastião da decência democrática à antiga. Tem muitos fascistas, mas o cordão sanitário à volta deles tem funcionado. Equipa multicultural. Forte possibilidade.
Portugal – Um poço onde se cai, um cú de onde se não sai. Não.
Suíça – O ouro dos judeus, as contas numeradas, a Nestlé. Bancos. São escorregadios como enguias e chamam a isso “neutralidade”. Não.
Dinamarca – Uma espécie de baldio entre a Holanda e a Suécia. Não se metem em complicações. Abriram as fronteiras aos refugiados. São simpáticos. Sem exuberância, boa hipótese.
País de Gales – Súbditos dóceis do imperalismo inglês. Não ameaçam com a independência. Não.
Macedónia do Norte – Roubaram o nome aos gregos e pouco mais se sabe deles. Ninguém faz ideia de como é Skopje e do que é que lá se passa. Tiro no escuro.
Hungria – Orban, não é preciso dizer mais nada. Passaram de fascistas a comunistas e depois a fascistas outra vez.
Eslováquia – Granjearam simpatia quando os checos se livraram deles por serem demasiado pobres, mas já ninguém se lembra disso. Como todos os pequenos países da Europa Central, ardentemente nacionalista. Não.
Escócia – Falam grosso aos ingleses, e semana sim semana não ameaçam com referendos e independência. Praticam o cross-dressing descomplexadamente. Tão boa hipótese como a Alemanha ou a Suécia, e nenhuma das desvantagens, e por isso a mais recomendável.
Claro que há sempre a possibilidade de escolher uma equipa apenas pelo grau de atracção do futebol que pratica. Mas esse costume - escolher as coisas pelas coisas - era muito praticado pelos bárbaros do século XX e é totalmente desajustado ao tempo das "redes sociais". Não se aconselha, portanto.
Monday, May 17, 2021
Não consigo evitar uma crescente irritação com o moralismo pueril do Facebook, de cada vez que o abro levo com trinta lições sobre assuntos que tenho como resolvidos há décadas. Não sei quando é que o FB começou a despertar a vocação professoral das gentes, nem quando é que se tornou um misto de grupo de apoio, tribunal popular e programa de educação de adultos. Sei que, com poucas e prezadas excepções, a maior parte está lá para se ouvir a si própria, e pouco espaço resta para quem queira, só, ouvir uma canção, e depois lembro-me de que isso - partilhar canções - foi a razão por que aderi ao FB. Felizmente há outros lugares, mais calmos, mais solitários.
A propósito, é muito bonito este album de tributo ao Berman.
Thursday, January 15, 2015
Filmes de aviadores (e não necessariamente "de aviões", que nos filmes que vou citar até se vêem pouco) foram nos anos 30. A grande rima é entre o "Last Flight" do Dieterle, no princípio da década (1931), e o "Only Angels Have Wings" do Hawks a fechá-a (1939). Apesar dos voos, são ambos filmes sobre aviadores em terra, todos um bocado queimados, literal e metaforicamente. E há um rima interna, muito directa, pouco me importa se fortuita, concentrada nas personagens de Richard Barthelmess, o actor mais triste do mundo, que está nos dois filmes: no "Last Flight" uma ferida nas mãos impede-o de segurar no copo como os outros; no "Angels", perto do final, uma ferida nas mãos impede-o de segurar no copo como os outros.