Tuesday, July 31, 2007

Cada filme, o último

I do not know but perhaps the day will come when I shall be received indifferently by the public, perhaps together with a feeling of disgust in myself. Tiredness and emptiness will descend upon me like a dirty grey sack and fear will stifle everything. Emptiness will stare me in the face.


When this happens I shall put down my tools and leave the scene, of my own free will, without bitterness and without brooding whether or not the work has been useful and truthful from the viewpoint of eternity.


Wise and far-sighted men in the Middle Ages used to spend nights in their coffins in order never to forget the tremendous importance of every moment and the transient nature of life itself.


Without taking such drastic and uncomfortable measures I harden myself to the seeming futility and the fickle cruelty of film-making with the ernest conviction that each film is my last.


(Ingmar Bergman, numa brochura não datada mas cujo aspecto gráfico permite situar algures entre finais de 50 e princípios de 60)


(Sei que o morto do dia é Antonioni mas, sorry, não consigo digerir mais do que uma morte por semana)

Wednesday, July 04, 2007

Celestial

Henrique Viana foi interveniente num dos meus diálogos cinematográficos preferidos. "Holderlin? Não conheço, é policial?"; "Não, é celestial". Quem replicava era João César Monteiro, e o filme, obviamente, é as Recordações.

(Apanhei há bocado, por mero acaso, uma denominada "Homenagem a Henrique Viana" feita pela TVI; quem não soubesse, julgaria que Viana se tinha notabilizado por ser actor de telenovelas no século XXI; such is the power of television, glosando um amigo meu num mail a que ainda não respondi; e claro, Oliveira, César Monteiro, João Botelho, Pedro Costa, João Mário Grilo, para a televisão comercial este pessoal é o inimigo; para a outra é só uma pedra no sapato)

Sem rosinhas vermelhas

O Memorial do Holocausto, no centro de Berlim. Por cima, dúzias de paralelipípedos alinhados em filas, total abstracção. Por baixo, um "centro de informações": números (muitos números), datas, nomes, algumas fotos, alguns fragmentos de testemunhos escritos. Expostos, é verdade, num dispositivo que usa, digamos, a cenografia como mecanismo de maximização dramática (ou dramatúrgica, até). Mas em total sobriedade, se não austeridade, sem truques nem efeitos a apelar à lágrima fácil. Mais Resnais ou Lanzmann (e mais Lanzmann do que Resnais) do que Spielberg.


Há sempre um lado fútil nos monumentos, sejam eles quais forem. Aqui tem-se a sensação de visitar uma excepção. Talvez o sítio mais comovente de Berlim

Monday, July 02, 2007

Derradeiro apontamento berlinense

Atravessa-se a Wilhelmstrasse, onde outrora estava instalado o coração do III Reich, e nada, nenhuma tabuleta, nenhuma espécie de sinalética, indica que era ali que se situava a chancelaria, o gabinete de Hitler, o célebre bunker, etc. Aos poucos edifícios dessa época que subsistem foram subtraidos os ornamentos com a simbologia nazi e são agora grandes matacões cinzentos e indistintos, que albergam serviços e instituições do governo alemão. Se não fossem as indicações constantes do guia, o passante nem sequer sabia que ali tinham sido tomadas algumas das mais atrozes decisões da história recente da humanidade.


(A única excepção é uma exposição, a Topographie des Terrors, situada nas ruinas do que antigamente foi o quartel-general da Gestapo e das SS; exposição a céu aberto, porque nada foi reconstruido).


Mas, chegando ao fim da Wilhelmstrasse, perto do Reichstag

Apontamento berlinense

Curt Bois, como espectral representante de uma Berlim antiga, pré-Hitler, pré-guerra, pré-tudo, passava pelas Asas do Desejo à procura de Potsdamer Platz, sem perceber que aquele glauco descampado com muro ao fundo era Potsdamer Platz. A ironia é que hoje, 2o anos depois do filme de Wenders, quando no lugar do descampado e do muro se ergue um futurista Sony Centre, Curt Bois estaria tão perdido como estava. Não há cidade mais condenada a mudar