Wednesday, September 15, 2010

The mainstream press

And yet, following the initial screening of Film Socialisme, Godard was repeatedly referred to by the mainstream press as irrelevant, obsessive, bitter, solipsistic, out of touch with the world, relentlessly and tediously indecipherable; he was charged by The Telegraph with “blathering opacity,” and with having a message both contemptuous and empty. (Todd McCarthy’s distressingly moralistic Indiewire review surely remains the most repulsive.) Fancy that for a work that urgently, if experimentally, addresses contemporary global politics, rampant technological and aesthetic change, environmental and ecological catastrophe, cultural amnesia, and our culture of trash, vulgarity (Ryan Trecartin anyone?), consumption, and fractured communication, the inevitability of growing old, and the perpetually relevant theme of sport, with exalted mental athletics outweighing physical ones. (daqui).

Ler isto em relação com o clip de há dois posts (e vinte e tal anos) atrás em que Godard fala do "inimigo" e o define como uma "cultura". O "inimigo" e a sua "cultura" são tão fortes que até neste belo texto de Andréa Picard (publicado na melhor revista de cinema em língua inglesa da actualidade) se nota o seu poder de condicionamento: aquele "if experimentally" da sexta linha, tão defensivo, tão justificativo, é uma cedência (quase um lapsus linguae, significativo por isso mesmo) ao autoritário moralismo estético (e depois, mais do que estético) da "mainstream press". Da "mainstream press", dos "mainstream blogs", da "mainstream tv" - de qualquer maneira, são os mesmos em todo o lado. "It's the culture"...


So disgusting

Cette cruelle voie

Monday, September 13, 2010

Leite ou sangue

Naturellement, Chabrol préfère insister sur ses convictions marxistes et déclarer dans le dossier de presse : "Je continue à croire aux rapports de classes et à souhaiter que les plus exploités puissent presser le nez de ceux qui les exploitent pour voir s'il en sort du lait ou du sang". Mais aqui, malheureusement em francês.

Penso que é uma descrição sucinta daquilo que interessou Chabrol do primeiro ao último filme, ainda que agora esteja mais na fashion intelectual falar dos charutos, da comida e do raio que o parta, em vez de em relações de classes, exploradores e explorados. Bon vivant ou monge - que importa isso - o homem trabalhou que se fartou (é ver a filmografia, fortunately em inglês, e pensar em tudo o que a filmografia não diz) e quando não saiu sangue saiu leite, ou vice-versa.

É engraçado, mas um dos clichés de agência noticiosa postos a circular tem alguma razão de ser. Quando se diz que Chabrol foi "fundador" da nouvelle vague estamos, num primeiro grau, no disparate absoluto: a nouvelle vague não era um instituto nem uma empresa nem nada que exigisse registo notarial, e se alguém a "fundou" foi a jornalista do L'Express que resolveu descrever como uma "nouvelle vague du cinéma français" aquele período de 59/60 em que vários cineastas com menos de trinta anos irromperam à superfície do envelhecido statu quo do cinema francês. Sucede que Chabrol, tão burguês remediado quanto eu e você, casou, aos vinte e poucos anos, com uma aristocrata endinheirada (que se não era aristocrata era endinheirada) e usou o dinheiro ganho por afinidade na produção de filmes - dele e de outros, como Le Coup du Berger, o primeiro Rivette, o primeiro filme "profissional" de qualquer dos cinco cahieristas (deixem a Varda e o Resnais de fora disto, que estavam noutra margem e fizeram outro caminho, acrescentem quando muito o Demy e não se esqueçam que o Doniol-Valcroze também fez filmes). Portanto aqui entramos no segundo grau: se falar de Chabrol como "fundador" da nouvelle vague roça o absurdo burocrático, não deixa de ser verdade que sem os seus fundos (ou os da mulher dele) a história não teria sido a que conhecemos.

Já tínhamos experimentado o fenómeno com Rohmer, em Janeiro passado: o elogio fúnebro de um cineasta francês, ces jours-lá, tem tendência, na intelligentsia blogueira e opinativa, a confundir-se com uma operação de resgate. Trocado por miudos, "era francês mas não era chato", e ser chato é que a gente não perdoa não é? Muito livro, muito Bolaño, muita modernidade literária, mas no cinema é historinha de A a Z em hora e meia, de preferência sem partes "paradas", ou é "o bocejo". Penso, desta vez, neste post do Eduardo Pitta, e em particular naquela lista inacreditavelmente precisa de cinco cineastas resgatados, em nome do "vasto mundo", ao "bocejo". Começo por constatar que, pela evidente ausência, o Godard e o Rivette são implicados no bocejo. Estando ambos ainda vivos (e activos), e sendo eles os dois sobreviventes do "eixo duro" da nouvelle vague, prova-se que Deus não faz as coisas por acaso e se está bem marimbando para o conforto estético do "vasto mundo". Agora o que me deixa suficientemente irritado para chegar ao ponto de estar a escrever isto é que aquela lista de nomes não faz sentido nenhum. E para mais, precisa de uma data: o "tempo em que o cinema francês não provocava bocejo" não é bem a mesma coisa que o tempo em que os animais falavam, pode-se (e deve-se) estabelecer uma cronologia. Ainda que em grosso modo - 1960, 1970, 1980, que tempo foi esse? Seria preciso começar por saber isto, para depois ser possível explicar porque é que aqueles cinco nomes juntos fazem, em qualquer circunstância (em qualquer data) uma salada sem pés nem cabeça. E porque é isto me irrita? Porque o Eduardo Pitta deve ter uns milhares de leitores diários, que lhe conferem um respeitabilíssimo módico de autoridade intelectual (que eu não contesto: sou um dos leitores diários) mas, por isso mesmo, aumentam a responsabilidade. E não me parece que lá por um tipo ser um crítico literário (bom) e ter um (bom) blog chamado Da Literatura esteja dispensado de rigor quando se põe a escrever sobre outros assuntos.

(parlo mai di astrofisica, io?).

Thursday, September 02, 2010

Pubblico di merda

Há trinta anos, nos alvores do berlusconianismo (então apenas) televisivo, Moretti, nos Sogni d'Oro, percebeu bem o monstro que a pantalhinha se aprestava a criar. É violento, mas é justo - e o monstro hoje está muito mais gordo. Moretti usou três palavras, e ainda estamos à espera de alguém mais sucinto.

A good Mann (isn't that hard to find)*











Por esta não estava à espera: em Manhunter (1986, na imagem) Michael Mann já andava à procura, entre outros reflexos, da luz de Miami Vice. Vinte anos separam os dois filmes, mas as ligações são mais que muitas. Que é que me falta agora: rever The Last of the Mohicans e descobrir que aquilo afinal é uma obra prima? O The Insider que achei tão chato? Quem se está a tornar um Mann hunter sou eu.

Observação marginal: Lektor por Lecter, o Brian Cox dá uma abada ao Anthony Hopkins.

*mil perdões à senhora O'Connor pelo trocadilho idiota, mas Super Mann está tomado desde os anos 50 (é o outro, o Anthony) e a minha imaginação, enquanto não for ali e voltar, está um bocado exaurida.