Sunday, June 13, 2021

É perfeitamente natural e compreensível que o bom cidadão, aquele que utiliza e frequenta as "redes sociais" para diariamente manifestar a sua violenta oposição às coisas más e o seu fervoroso apoio às coisas boas, encontre dificuldades na hora de escolher uma equipa para apoiar no Euro 2020. A pensar nele, preparei um pequeno guia, que espero que facilite essa árdua escolha:

Bélgica – Burocratas, affair Dutroux, uma vergonha o que fizeram no Congo, e o Vlamandsblok é fascista. Por outro lado, equipa multicultural, e o Lukaku. Hipótese a considerar, à falta de melhor.

Itália – Nah. Inventaram o nacionalismo moderno. Mussolini, Salvini. Relação ambígua com a “crise dos migrantes”. Mafia, Berlusconi, país precursor da diluição de fronteiras entre o underground criminoso e a superfície de respeitabilidade política.

Rússia – Nem pensar. Do Mal Absoluto quer-se distância.

Polónia – Fascistas.

Ucrânia – Fascistas.

Espanha – Tourada, monarquia, Vox. Fascistas, no fundo.

França – Caso complicado. Imperdoável que de 7 em 7 anos nos deixe em ai Jesus que lá vêm os Le Pen. Chauvinistas, antipáticos, o Macron é um sonso. Como a Bélgica, equipa multicultural, mas, como a Bélgica, um multiculturalismo conseguido à custa da pilhagem colonial de recursos humanos. Há-de haver melhor.

Turquia – Erdogan. Nem pensar.

Inglaterra – O Brexit, o Boris. Churchill e outros racistas. Imperialistas. A família real mais cretina da Europa. Passar à frente.

República Checa – Depois do Havel ninguém sabe muito deles, na verdade. Mas parece que já fizeram umas fitas na CE e tiveram um presidente que mandou bocas islamófobas. À cautela, não.

Finlândia – o povo mais simpático da Europa, mas aquilo dos Verdadeiros Finlandeses é esquisito. Bebem muito e são muito brancos. Não.

Suécia – Liberalíssimas políticas de imigração, que lhe valem ser o pet hate da extrema direita mundial. Não se fazem falar muito, excepto quando há chatices com o Nobel, e no fundo ninguém sabe muito bem o que lá se passa. Hipótese a considerar.

Croácia – Fascistas.

Áustria – Ui, país onde nasceu o Hitler. Tem sempre fascistas no governo ou à volta dele. Fascistas.

Holanda – Arrogantes que roubam os impostos dos outros países e depois se queixam de que têm que pagar as contas deles. Já ninguém se lembra de quando se louvava Amesterdão Global Village, parece que foi há mil anos. Não.

Alemanha - Há dez anos seria hipótese imediatamente excluida, mas hoje já não representam o neo-imperalismo económico, antes um bastião da decência democrática à antiga. Tem muitos fascistas, mas o cordão sanitário à volta deles tem funcionado. Equipa multicultural. Forte possibilidade.

Portugal – Um poço onde se cai, um cú de onde se não sai. Não.

Suíça – O ouro dos judeus, as contas numeradas, a Nestlé. Bancos. São escorregadios como enguias e chamam a isso “neutralidade”. Não.

Dinamarca – Uma espécie de baldio entre a Holanda e a Suécia. Não se metem em complicações. Abriram as fronteiras aos refugiados. São simpáticos. Sem exuberância, boa hipótese.

País de Gales – Súbditos dóceis do imperalismo inglês. Não ameaçam com a independência. Não.

Macedónia do Norte – Roubaram o nome aos gregos e pouco mais se sabe deles. Ninguém faz ideia de como é Skopje e do que é que lá se passa. Tiro no escuro.

Hungria – Orban, não é preciso dizer mais nada. Passaram de fascistas a comunistas e depois a fascistas outra vez.

Eslováquia – Granjearam simpatia quando os checos se livraram deles por serem demasiado pobres, mas já ninguém se lembra disso. Como todos os pequenos países da Europa Central, ardentemente nacionalista. Não.

Escócia – Falam grosso aos ingleses, e semana sim semana não ameaçam com referendos e independência. Praticam o cross-dressing descomplexadamente. Tão boa hipótese como a Alemanha ou a Suécia, e nenhuma das desvantagens, e por isso a mais recomendável.


Claro que há sempre a possibilidade de escolher uma equipa apenas pelo grau de atracção do futebol que pratica. Mas esse costume - escolher as coisas pelas coisas - era muito praticado pelos bárbaros do século XX e é totalmente desajustado ao tempo das "redes sociais". Não se aconselha, portanto.