Saturday, July 23, 2011
Saturday, July 16, 2011
Fora do carro (mas para quê?)
A mim espanta-me é que o Get Out of the Car esteja na competição de Vila do Conde. What next, Jonas Mekas taco a taco com o exercício de fim de curso do Joaquim dos Anzóis (para depois ver o seu "experimentalismo" preterido em favor da "técnica escorreita", ou lá como é que se diz)?
Já agora, Jorge, sorry mas não, não podia ser uma "instalação audiovisual", e bem pelo contrário não podia justamente ser senão o que é: um filme, um filme-filme (16mm, uma banda de som e uma banda de imagem tratadas como duas entidades de natureza diferente), certamente um dos poucos filmes curtos feitos nos últimos anos que não podiam ser outra coisa.
Já agora, ainda:
Tuesday, July 12, 2011
Do espírito de síntese
Em 1936, dois filmes americanos evocaram o assassinato de Abraham Lincoln:
Ora isto acontece porque:
Hipótese A: Ford e DeMille eram cineastas geniais e Redford, hum, não é um cineasta genial.
The Prisoner of Shark Island, de John Ford, sobre o médico que prestou assistência ao fugitivo John Wilkes Booth, começa imediatamente a seguir ao assassinato.
The Plainsman, de Cecil B. DeMille, mostra Lincoln e a mulher a jantarem em casa, depois saem e despedem-se de alguém dizendo que "vão ao teatro". Corte, e no plano seguinte Lincoln já morreu.
Em 2011, um filme de Robert Redford (chamado de The Conspirator, estreia em breve) gasta uma penosa e totalmente inútil meia-hora a filmar, em "suspense" (!) desenxabido, a noite do assassinato de Lincoln.
Ora isto acontece porque:
Hipótese A: Ford e DeMille eram cineastas geniais e Redford, hum, não é um cineasta genial.
Hipótese B: em 1936, o espectador-tipo sabia quem era Lincoln e o que lhe tinha acontecido, enquanto em 2011 o espectador-tipo, hum, precisa da história (da História) bem explicadinha ou mesmo a americana vira chinesa.
Penso que A e B não se excluem mutuamente, e estou razoavelmente seguro de que não há uma hipótese C.
Tuesday, July 05, 2011
Inquérito (resposta a um)
Estas coisas são tão 2005 que pensei que já tivessem sido erradicadas. Mas vamos lá, até porque a lembrança é gentil.
1. Existe um livro que relerias várias vezes?
Existem livros que reli várias vezes, mas são quase todos de banda desenhada, foram escritos por René Goscinny e desenhados por Albert Uderzo. Falando de livros sem bonecos, há muitos de que frequentemente releio passagens, por esta ou por aquela razão. Reler de cabo a rabo não é hábito. Portanto, sim e não: sim, há livros que releria várias vezes, mas não, isso não quer dizer que o faça.
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Deve haver, mas em geral tento evitar que isso aconteça. Se enjoo, enjoo, a coisa é radical (aconteceu-me com um escritor português muito célebre que não nomearei). Se é só uma leitura difícil não há razão para não perseverar. Exemplo prático: tenho há meses na mesa de cabeceira uma edição do Montaigne em francês antigo, que me chegou às mãos por herança, sort of. É duro, vai devagar, mas chega-se lá.
3. Se escolhesses um livro para ler no resto da tua vida, qual seria?
Recusar-me-ia a escolher. E se mo impusessem provavelmente não lhe pegaria, em protesto silencioso contra a falta de opções.
4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
Pffff... Os que estão na pilha e os que nem na pilha estão. Too much.
5. Que livro leste cuja “cena final” jamais conseguiste esquecer?
O Dorian Gray causou um certo efeito, mas talvez a minha memória esteja poluída pela versão filme (Albert Lewin, 1945) que é muito, muito boa, e consegue a proeza de resolver muito, muito bem o final, com um quadro (pintado por Henrique Medina) que está muito, muito à altura do que de mais horrível se podia imaginar pela leitura do livro. Quando tinha 12 anos o "twist" final do Assassinato de Roger Ackroyd (Agatha Christie) perturbou-me bastante. Boa coisa tê-lo lido nessa idade, hoje provavelmente acha-lo-ia desonesto e manipulador (mas com 12 anos conta o espanto, não a maneira como ele é fabricado). E uma historiazinha fabulosa, A Mão de Macaco. Mas sei lá responder a esta pergunta, os livros são como os filmes, on les oublie como diz o Skorecki, e está muito bem assim.
O Dorian Gray causou um certo efeito, mas talvez a minha memória esteja poluída pela versão filme (Albert Lewin, 1945) que é muito, muito boa, e consegue a proeza de resolver muito, muito bem o final, com um quadro (pintado por Henrique Medina) que está muito, muito à altura do que de mais horrível se podia imaginar pela leitura do livro. Quando tinha 12 anos o "twist" final do Assassinato de Roger Ackroyd (Agatha Christie) perturbou-me bastante. Boa coisa tê-lo lido nessa idade, hoje provavelmente acha-lo-ia desonesto e manipulador (mas com 12 anos conta o espanto, não a maneira como ele é fabricado). E uma historiazinha fabulosa, A Mão de Macaco. Mas sei lá responder a esta pergunta, os livros são como os filmes, on les oublie como diz o Skorecki, e está muito bem assim.
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Bué. Lia mais com 7 ou 8 anos do que agora aos 40 (i pomeriggi di maggio non tornerano piu). Lia de tudo: BD, os Cinco, coisas sobre animais e natureza, história, desporto, a Enciclopédia Luso-Brasileira. Assim que recebi luz verde para tal, atirei-me à Colecção Vampiro do meu pai, momento histórico que assinalou a minha entrada no mundo literário dos adultos, ou assim pensava eu.
7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Um calhamaço de economia no tempo da faculdade, Samuelson ou coisa que o valha. Por uma razão muito simples: não queria deixar a cadeira (que se chamava, justamente, Economia) pendurada. Funcionou. Vinte anos depois, não recordo a ponta dum corno do que lá estava escrito, e não sei se me orgulhe disto ou envergonhe (parece que saber de economia é essencial nos dias que correm, parece mesmo que saber de economia é tudo na vida).
8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Alguns, em livre associação de ideias, restringindo-me à ficção: O Primo Basílio (nesta, sou eu e o Stroheim), a Antologia da Literatura Fantástica do Borges, do Bioy e da Ocampo, o Shakespeare (todo num só volume), o Poe (idem), os contos do Maupassant, o Diário de um Pároco de Aldeia, A Praia, o Idiota, o Jogador (e o resto do Dostoievski), a Metamorfose, Berlin Alexanderplatz, sei lá, you name it.
9. Que livro estás a ler?
Fora o já mencionado long-term project dos Essais em francês antigo, a DVDéothèque do Jean Douchet e Sur un Art Ignoré (Michel Mourlet).
10. Indica dez amigos para responderem a este inquérito.
Não sei se tenho tantos. De qualquer modo, gosto de ser uma espécie de Anjo da Morte para esta espécie de correntes. As coisas têm que acabar de alguma maneira.
Saturday, July 02, 2011
Os homens normais
- A normal man? For me, a normal man is one who turns his head to see a beautiful woman's bottom. The point is not just to turn your head. There are five or six reasons. And he is glad to find people who are like him, his equals. That's why he likes crowded beaches, football, the bar downtown... (...) He likes people similar to himself and does not trust those who are different. That's why a normal man is a true brother, a true citizen, a true patriot...
- A true fascist.
Diálogo de Il Conformista, de Bertolucci. Só duas notas: em italiano a música é mais bonita, mas o sentido é o mesmo; não me lembro se isto vem tintim por tintim do Moravia (o tempo passa e os livros desaparecem) ou se é obra do Bertolucci, mas pouco importam os créditos: ouvi isto outro dia, no ecran gigante da Piazza Maggiore (yup, de vez em quando acontece-me viajar - ou acontecia), e achei este diálogo mais assustador - quer dizer, mais exacto - do que nunca (e pelas minhas contas, foi a terceira vez que vi o Conformista).
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