É claro que não há território mais subjectivo do que este: os clássicos de um homem são os filmes esquecidos de outro, e vice-versa. Mas esta lista reproduzida pelo Pedro, e onde há coisas de que gosto muito, coisas que não faço ideia do que sejam, e coisas que não lembrava ao careca incluir numa lista destas (Tin Cup?????), despertou-me a vontade. Aqui está uma lista minha de 50 candidatos a "clássicos esquecidos". Eu sei que é tudo subjectivo e comecei este post por aí - haverá sempre quem ache que X não é clássico e Y não está esquecido. Não segui nenhum critério, a não ser não repetir realizadores. Parei nos 50, como podia ter parado antes ou depois. E não é um best of pessoal: apenas cinquenta filmes que eu acho que mereciam ser mais conhecidos, e que eu acho que os espectadores de cinema (descontando os cinéfilos hardcore que já os viram a todos) gostariam de conhecer, pelo menos num mundo perfeito. Eu pelo menos gosto deles.
The Cheat, Cecil B. DeMille (EUA), 1915
Erotikon, Mauritz Stiller (Suécia), 1920
Haxan (A Feitiçaria Através dos Tempos), Benjamin Christensen (Suécia), 1922
Die Strasse (A Rua), Karl Grune (Alemanha), 1923
Lady of the Night, Monta Bell (EUA), 1925
Ze Soboty na Nedely (De Sábado a Domingo), Gustav Machaty (Checoslováquia), 1931
The Marriage Circle, Ernst Lubitsch (EUA), 1933
Liebelei, Max Ophuls (Alemanha), 1933
The Good Fairy, William Wyler (EUA), 1935
My Man Godfrey, Gregory La Cava (EUA), 1936
Le Roman d’un Tricheur, Sacha Guitry (França), 1936
The Edge of the World, Michael Powell (Inglaterra), 1937
L’Étrange Monsieur Victor, Jean Grémillon (França), 1938
Roxie Hart, William Wellman (EUA), 1942
Novgorodtsy (Os Homens de Novgorod), Boris Barnet (URSS), 1943
Bluebeard, Edgar G. Ulmer (EUA), 1944
Phantom Lady, Robert Siodmak (EUA), 1944
Dead of Night, Cavalcanti/Crichton/Dearden/Hamer (Inglaterra), 1945
Le Vampire, Jean Painlevé (França), 1945
The Picture of Dorian Gray, Albert Lewin (EUA), 1945
Berlin Express, Jacques Tourneur (EUA), 1948
Der Verlorene, Peter Lorre (Alemanha), 1951
Cielo Negro, Manuel Mur Oti (Espanha), 1951
House of Wax, Andre de Toth (EUA), 1953
Estate Violenta, Valerio Zurlini (Itália), 1959
Compulsion, Richard Fleischer (EUA), 1959
Fantasmi a Roma, Antonio Pietrangeli (Itália), 1961
The Pink Panther, Blake Edwards (EUA), 1964
Walkower, Jerzy Skolimowski (Polónia), 1965
Wavelength, Michael Snow (EUA), 1967
Al Mumma (A Múmia), Shadi Abdel Salam (Egipto), 1969
Matou a Família e Foi ao Cinema, Júlio Bressane (Brasil), 1969
Ikho Shashvi Mgalobeli (Era uma vez um Melro Cantor), Otar Iosseliani (URSS), 1970
Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, JC Monteiro (Portugal), 1970
Dr. Jekyll and Sister Hyde, Roy Ward Baker (Inglaterra), 1971
The Act of Seeing With One’s Own Eyes, Stan Brakhage (EUA), 1971
Vanishing Point, Richard C. Sarafian (EUA), 1971
Je, Tu, Il, Elle, Chantal Akerman (Bélgica), 1974
Cruising, William Friedkin (EUA), 1980
Une Chambre en Ville, Jacques Demy (França), 1982
El Sur, Victor Erice (Espanha), 1983
La Diagonale du Fou, Richard Dembo (Suíça), 1984
Vision Quest, Harold Becker (EUA), 1985
Frankenstein Unbound, Roger Corman (EUA), 1990
Verhängnis (Destino), Fred Kelemen (Alemanha), 1994
Daijjiga Umule Pajjinal (O Dia em que um Porco Caiu a um Poço), Hong Sang Soo (Coreia do Sul), 1996
Mange ta Soupe, Mathieu Amalric (França), 1997
The Blackout, Abel Ferrara (EUA), 1997
En Construccion, Jose Luis Guerin (Espanha), 2001
Le Monde Vivant, Eugene Green (França), 2003
Wednesday, December 27, 2006
Wednesday, December 13, 2006
Sociedade de classes
Gostando de futebol, tenho cada vez menos paciência para as minudências da vida clubista portuguesa. Ainda torço um bocadinho (muito menos do que quando era miudo) pelo Benfica, mas mais dois ou três anos e parece-me que conseguirei aplicar ao futebol português a distância neutral com que vejo os jogos da Premier League.
Serve isto de ponto prévio para explicar que me estou um bocado nas tintas para o conteúdo do célebre livro de Carolina Salgado, que não li nem lerei, não comento nem comentarei. O que me apetece comentar, isso sim, é a sua recepção mediática. Não o escarcéu à volta das suas "revelações", provavelmente inevitável e em boa medida justificado. Mas a prontidão com que à direita e à esquerda, a norte e a sul, opinadores de todo o tipo têm insistido na "falta de credibilidade" da senhora. Ora bem; se disserem "falta de carácter" sou capaz de subscrever, sendo a história por trás do livro a que é, mas quando dizem "falta de credibilidade", pergunto: porquê? Porque a senhora foi, ao que parece, "alternadeira"? Porque tem "mau carácter"? Em matéria de opinião, admito que o "quem diz" decida bastante da credibilidade do "o que é dito". Em matéria de facto, devia ser ao contrário.
Não é que eu, não sendo seguramente de origem aristocrática, venha propriamente do "povo" (embora os meus bisavós de um dos lados da família ainda vivessem da terra). Mas estes preconceitos de classe que ainda vão regendo a vida pública portuguesa irritam-me sobremaneira. Conhecem a história do chamado "caso do correio de Lião", célebre erro judiciário acontecido em França: o homem para quem todos os indícios apontavam só era ilibado sem margem para dúvidas pelo depoimento de uma testemunha; mas como essa testemunha era uma prostituta o tribunal decidiu pela sua "falta de credibilidade", e o homem acabou guilhotinado, poucos meses antes de outras provas atestarem a sua inocência e a credibilidade da testemunha. Isto foi em finais do século XVIII, ainda por cima já depois de a Revolução ter trazido a "igualdade". Em termos de mentalidade, não estamos muito longe. Vemos nos filmes e nas séries de tv americanas os advogados a seguirem sistematicamente estratégias de descredibilização das testemunhas, e percebemos que o façam - é por razões tácticas, explorando a amoralidade dos mecanismos da justiça e os preconceitos dos jurados e da opinião pública. Quando são comentadores sem qualquer compromisso pessoal ou profissional com o caso a fazê-lo, a única coisa que fica à vista é o preconceito.
Penso eu de que.
Adenda: Parecendo que não, tem alguma coisa a ver com isto. "Prostitutas, eurodeputados e gente vulgar" é uma descrição magnífica. Nunca tinha pensado no carácter microcósmico do Galeto.
Serve isto de ponto prévio para explicar que me estou um bocado nas tintas para o conteúdo do célebre livro de Carolina Salgado, que não li nem lerei, não comento nem comentarei. O que me apetece comentar, isso sim, é a sua recepção mediática. Não o escarcéu à volta das suas "revelações", provavelmente inevitável e em boa medida justificado. Mas a prontidão com que à direita e à esquerda, a norte e a sul, opinadores de todo o tipo têm insistido na "falta de credibilidade" da senhora. Ora bem; se disserem "falta de carácter" sou capaz de subscrever, sendo a história por trás do livro a que é, mas quando dizem "falta de credibilidade", pergunto: porquê? Porque a senhora foi, ao que parece, "alternadeira"? Porque tem "mau carácter"? Em matéria de opinião, admito que o "quem diz" decida bastante da credibilidade do "o que é dito". Em matéria de facto, devia ser ao contrário.
Não é que eu, não sendo seguramente de origem aristocrática, venha propriamente do "povo" (embora os meus bisavós de um dos lados da família ainda vivessem da terra). Mas estes preconceitos de classe que ainda vão regendo a vida pública portuguesa irritam-me sobremaneira. Conhecem a história do chamado "caso do correio de Lião", célebre erro judiciário acontecido em França: o homem para quem todos os indícios apontavam só era ilibado sem margem para dúvidas pelo depoimento de uma testemunha; mas como essa testemunha era uma prostituta o tribunal decidiu pela sua "falta de credibilidade", e o homem acabou guilhotinado, poucos meses antes de outras provas atestarem a sua inocência e a credibilidade da testemunha. Isto foi em finais do século XVIII, ainda por cima já depois de a Revolução ter trazido a "igualdade". Em termos de mentalidade, não estamos muito longe. Vemos nos filmes e nas séries de tv americanas os advogados a seguirem sistematicamente estratégias de descredibilização das testemunhas, e percebemos que o façam - é por razões tácticas, explorando a amoralidade dos mecanismos da justiça e os preconceitos dos jurados e da opinião pública. Quando são comentadores sem qualquer compromisso pessoal ou profissional com o caso a fazê-lo, a única coisa que fica à vista é o preconceito.
Penso eu de que.
Adenda: Parecendo que não, tem alguma coisa a ver com isto. "Prostitutas, eurodeputados e gente vulgar" é uma descrição magnífica. Nunca tinha pensado no carácter microcósmico do Galeto.
Thursday, December 07, 2006
Indecisão, enigma, ameaça
Agora que a célebre fórmula do Fuller no Pierrot, à custa de ser tão recitada e tão repisada, se tornou um cliché que já não quer dizer nada, está na altura de começarmos a substituir "love, hate, emotions" por "planos indecididos, imagens enigmáticas, corpos sob ameaça". É igualmente justo (se não mais ainda), está mais fresco, e acima de tudo não dá para aplicar a propósito de qualquer filme.
São as últimas palavras de um texto que podem ler aqui em versão inglesa do original francês. Se por acaso lá forem, leiam os outros textos também.
Com um agradecimento ao proverbial Signo do Dragão.
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Com um agradecimento ao proverbial Signo do Dragão.
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