Caso este inquérito, nas voltas e contravoltas que por certo se seguirão, tenha a ideia de me vir bater à porta, aviso já que é inútil. A lista seria infindável. Mais, seria integral. Nunca um livro, nem um disco, nem um filme, mudou a minha vida. Não que não o desejasse, não que não o tenha pedido (mais a livros e a discos do que a filmes, curiosamente). Mudas invocações de mudança: “agora, muda a minha vida”, “muda-me”, “muda o mundo à minha volta”, três variantes do mesmo desejo. Mas a mudança não acontece a pedido.
Nem se encomenda na Amazon. O que nos muda, e o que nos muda a vida, são as outras pessoas, e são as coisas. O que escolhemos e o que alguém (o acaso, certamente) escolhe por nós. Os livros – e o resto – existem para nos ajudar a perceber. Mais: são aquilo que permanece depois de tudo ter mudado. Já não é mau. Mas ir além disso é confundir a arte e as mezinhas.
(Dito isto, correria para o livro que fizesse de mim um adulto. Ainda nenhum foi capaz disso, e já tentei quase todos aqueles de que vocês falam.)