A propósito de Marker, e ressuscitando - passe o termo - a minha irreprimível tendência de marcador de óbitos, não pode ficar sem menção aquela semana de Julho em que, a uma cadência quase diária, nos despedimos de três das últimas figuras que ainda garantiam um "link" vivo para a idade (realmente) clássica do cinema.
Assim:
- Ernest Borgnine, talvez o mais amável dos actores craggy-faced da Hollywood antiga, tão credível como homem simplório como enquanto vilão empedernido (no Johnny Guitar, por exemplo, filme de cujo elenco principal já só sobrevive Ben Cooper)
- Celeste Holm, provavelmente a única actriz a dominar um filme do princípio ao fim só com a voz - na Letter to Three Wives do Mankiewicz. A "protagonista ausente", por excelência; ou, o que no caso vai dar ao mesmo, a protagonista excelente, por ausência. (Vede o filme, vede).
- Isuzu Yamada, que nem me ocorreria pensar que ainda estava viva. Actriz de Mizoguchi, foi por exemplo uma das Irmãs de Gion, há tanto tempo que ainda nem a II Guerra tinha começado. (Mas trabalhar com Mizoguchi, e com Ozu, parece que alonga o viver: ainda temos Machiko Kyo e Setsuko Hara).
1917-2012, nos três casos.
(já agora, mais isto: soube hoje da morte, no mês passado, de Stephen Dwoskin, que provavelmente por falta de atenção minha não tinha visto noticiada em lado nenhum; homem doutro "clube", por idade e circunstância, o dos cineastas teimosos e solitários que fazem da "caméra" o seu "stylo", sem metáfora; vão-se fazendo raros)