Evidentemente, podia-se fazer um livro inteiro compilando diálogos e one-liners dos filmes de Nicholas Ray. In a Lonely Place ou Born to Be Bad, por exemplo não ao acaso: em ambos as melhores tiradas estão reservados para personagens-escritores (Bogart e Robert Ryan), que os críticos dizem ter "a flair for dialogue" (Ryan em A Born to Be Bad). Isto pode por começar por parecer um cuidado realista, uma justificação para a eloquência e para o "flair" de personagens que falam como toda a gente gostava de conseguir falar mas só no cinema é possível. O que é verdade. Mas depois é muito mais do que isso. São filmes (Bogart e Ryan, Hayden no Johnny Guitar, Mitchum nos Lusty Men, mesmo Burton no Bitter Victory) sobre personagens - homens, sempre - que transformam a vida num espectáculo escrito, filmados no momento em que o escrevem. Donde, a genialidade de todos aqueles momentos em que o empolamento do diálogo (e da maneira de o dizer), quase sempre em encenação turva de uma self-pity (e tantas vezes tão... pop, como nas melhores pop songs on pop songs), parece abrir uma ruptura na ordem narrativa, criar ali um abismo que nos desperta do filme. Exemplo: em Born to Be Bad, o momento em que Ryan faz menção de subir a escada mas não sobe, e atira a Joan Fontaine o imortal "I love you so much I wish i liked you". A maneira como Ray filma, o plano aberto, Ryan no centro do enquadramento para que melhor tenhamos a noção da coreografia do gesto, é como se nos dissesse: "vejam, este homem escreve".