Cineasta da palavra torrencial, Guitry avança sempre depressa demais para que se possa confundir os seus filmes com uma reflexão sobre o lugar da oralidade num cinema "roubado" ao teatro (e sobre essa questão, "teatro & cinema", desconfio que Guitry diria apenas, como os outros, "ne change rien"). O que havia a reflectir foi reflectido antes, e o que vemos, em milagrosa decantação, é o que a Guitry interessa mostrar: que toda a dicção é acção, e que toda a acção é a dicção.
Alguém devia fazer uma compilação das cenas com telefones nos filmes de Guitry (como esta, de Faisons un Rêve). Depois, dar um salto de cinquenta anos e chegar ao Puissance de la Parole do JLG, que, a pensar no Guitry ou não (e, meus amigos, não admirava nada que estivesse), reencontrou, beau esprit com beau esprit, a telecomunicação como monólogo.