Tuesday, June 01, 2010

Reinventar

Na crónica de ontem, o MEC insurgia-se contra o uso da palavra “reinventar”, por, entre outros problemas, querer normalmente implicar que quem “reinventava” era tão bom ou melhor do que quem “inventou”, e também que a coisa “reinventada” passava a um estado superior ao da sua mera “invenção”. Partilho genericamente as preocupações do MEC com este abuso.

Mas acontece que de vez em quando quer-se mesmo implicar isso. Por exemplo, a frase que há um par de horas (três pessoas na sessão das 00.30 no King) me habita o espírito : “Em Noite e Dia Hong Sang-Soo reinventa o zoom”. Isto começa por ser uma maneira hiperbólica – em certas situações o exagero é uma forma de justiça – de elogiar o sentido do reenquadramento óptico em Hong Sang-Soo, e depois quer mesmo dizer que Hong Sang-Soo é melhor que o tipo que inventou os zooms, e que com ele o zoom se torna uma coisa melhor. Conduzindo a justiça hiperbólica a um paroxismo, diria mesmo que poucas vezes, desde o Era Notte a Roma com que Rossellini se tornou o primeiro tipo a reinventar o zoom ainda mal o zoom tinha sido inventado, o zoom se tornou numa coisa tão boa.

Um blog está morto a partir do momento em que o que é preciso justificar é a presença e a não a ausência, e quando um tipo não consegue escrever um post sem se imaginar a passar por uma introdução deste tipo. Mas são 5 e tal, boa hora para blogues zombies, estou em frente ao computador por obrigações profissionais, e de qualquer maneira eu estas coisas escrevo-as em questão de minutos, que não adiantam nem atrasam a todos aqueles que estão à espera que eu termine certas tarefas, nem pesam sobremaneira no meu sentimento de culpabilidade por ainda não as ter terminado.